Conservação da Biodiversidade: qualidade de vida para a sociedade
Para celebrar o Dia Internacional da Biodiversidade, a pesquisadora em Oceanografia Margareth Copertino (FURG), integrante da Coalizão Ciência e Sociedade, ressalta neste artigo a importância da biodiversidade marinha no fornecimento de alimento, proteção, diversão e cura para a humanidade, entre outros serviços ecossistêmicos, e destaca também o papel central da Ciência para a sua proteção e conservação.
Dependemos da biodiversidade! A biodiversidade exerce funções ecológicas básicas como a produção, decomposição e ciclagem de nutrientes, e fornece serviços e bens para a sociedade, como alimentos e matéria prima, proteção do solo, regulação do clima, sequestro de carbono, proteção contra desastres naturais, turismo e bem-estar cultural e espiritual. Logo, a destruição da biodiversidade compromete a economia e o próprio bem-estar humano.
Dependemos da biodiversidade marinha
A biodiversidade marinha alimenta: macroalgas, peixes, crustáceos e mariscos nutrem inúmeras populações e regem a economia de muitas regiões costeiras. Entre 2013 e 2025 está previsto que o Brasil dobrará a produção pesqueira. A produção de aquicultura utiliza insumos de origem marinha, tanto animal como vegetal.
A biodiversidade marinha regula o clima: através da ação de algas e plantas, os ecossistemas marinhos sequestram parte do carbono atmosférico, desempenhando papel fundamental na mitigação das mudanças climáticas.
A biodiversidade marinha depura: algas e plantas absorvem o excesso de nutrientes e de poluentes que despejamos nos rios e mares, limpando a água e regulando os ciclos biogeoquímicos.
A biodiversidade marinha protege: recifes de corais, florestas de manguezais, marismas e pradarias de plantas submersas são barreiras que protegem a costa contra desastres naturais e reduzem a erosão costeira. Enquanto recifes reduzem a energia das ondas oceânicas, manguezais e marismas protegem a costa, além de filtrar o excesso de sedimentos e nutrientes que chegam com o aporte continental.
A biodiversidade marinha cura: antibióticos, antivirais, antitumorais e outras substâncias bioativas são produzidas por algas e animais marinhos e terão papel fundamental na provisão futura de matéria prima para a produção de fármacos.
A biodiversidade marinha diverte: passeios e férias no litoral, mergulho e observação da vida marinha, estão dentre as atividades de lazer mais apreciadas pela sociedade, sustentando indústrias locais do turismo ao longo de todo o extenso litoral brasileiro.
A biodiversidade é também bem imaterial: atrela valores estéticos, culturais e espirituais (contemplação, meditação, crenças e festas religiosas), gerando bem-estar e felicidade. Pela não atribuição de valores financeiro, estes bens são normalmente não incluídos nos estudos de valoração dos ecossistemas, sendo em geral desprezados pelos interesses econômicos da sociedade.
Portanto, o potencial de produção econômica e o bem-estar da humanidade, atual e futuro, depende da manutenção dos recursos da biodiversidade em geral (tanto marinha como terrestre), e de todos os serviços ecossistêmicos associados. Por esta razão, a crise econômica mundial é também em função da crise ecológica, causada pelo nosso modo de vida consumista e predatório.
Perdemos a biodiversidade marinha em ritmo acelerado
Nos últimos 50 anos, perdemos pelo menos 50% das áreas de manguezais e de marismas; mais de 30% das pradarias de plantas submersas foram destruídas e cerca de 40% de toda a vida marinha foi reduzida.
Oceanos, mares e regiões costeiras sofrem pressões múltiplas, como a destruição dos habitats naturais, eutrofização, urbanização, atividades portuárias, diversos tipos de poluição, pesca predatória, invasões biológicas, além dos impactos das mudanças climáticas.
A grande maioria das mudanças climáticas está ocorrendo nos oceanos, os quais estão absorvendo 93% da energia térmica extra causada pelo aquecimento global. A absorção de 27% do CO2 pelos oceanos está causando a sua acidificação. Os cientistas dizem, com razão, que “mudança climática é mudança oceânica”. Os efeitos combinados do aquecimento, da oxigenação das águas, acidificação e degradação ambiental estão causando a redução drástica da biodiversidade marinha e impactando populações para além das regiões costeiras.
A redução no número de espécies a nível local é, por si só, o maior indutor de mudanças nos ecossistemas, comparável aos efeitos negativos de estressores globais. Além disso, reduções nas abundâncias dos organismos levam à redução da variabilidade genética das populações e, portanto, resultam em uma menor capacidade de adaptação da espécie, essencial para a sobrevivência futura em cenário de mudança climática.
Ciência é a reposta para a conservação da biodiversidade
Biodiversidade não é problema, é solução. Esta é a principal mensagem do Primeiro Diagnóstico Brasileiro de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, elaborado por um grupo de mais de 120 pesquisadores reunidos na Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos.
Os impactos da perda de biodiversidade para a qualidade de vida são muitos e de grande dimensão. Mas a boa notícia é que o acúmulo do nosso conhecimento científico é enorme, podendo contribuir com soluções efetivas para o uso e conservação da biodiversidade e recuperação dos ecossistemas, auxiliando até na adaptação futura das espécies às mudanças climáticas. Para isto, necessitamos de ciência contextualizada e atuante nos problemas ambientais da atualidade, unindo teoria, experimentação e ação. Esta ciência deve ter credibilidade, apresentar resultados legítimos e relevantes para a sociedade, passíveis de compreensão e de interesse coletivo e político.
Compreender e revelar as interações entre biodiversidade, serviços ecossistêmicos e bem-estar humano são ainda desafios da ciência que devem ser vencidos de modo a promover acordos multilaterais pacíficos entre os diversos interesses, assim como para alcançar metas ambientais e climáticas globais.
Pesquisas científicas e políticas públicas demandam tempos distintos de respostas. De um lado, os resultados gerados de uma pesquisa, por vezes desenvolvida por anos, podem levar décadas para se transformar em política pública. De outro lado, uma demanda imediata da sociedade – como uma vacina para a COVID-19 – requer pesquisas que podem levar anos para chegar aos resultados.
Desta maneira, os esforços de integração entre as esferas científicas e políticas devem ser permanentes, permitindo uma construção gradual e sólida das relações e da confiança entre pesquisadores, sociedade e tomadores de decisão. Neste aspecto, precisamos explorar muito mais o potencial da ciência, da tecnologia, da inovação, da criatividade e principalmente da comunicação.
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