Nota de repúdio à retirada de condecoração de cientistas
No último dia 4 de novembro, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, publicou um decreto no Diário Oficial da União condecorando na “Classe Comendador” vários cientistas das áreas de Ciências: Biológicas, Biomédicas, da Saúde , da Terra, Físicas , Matemáticas, Químicas e Humanas, de universidades e institutos de pesquisa brasileiros.
Para grande perplexidade da comunidade cientifica brasileira, o presidente da República, nesta sexta-feira, 05, publicou outro decreto, tornando sem efeito a condecoração de dois brilhantes cientistas brasileiros – Dra. Adele Schwartz Benzaken, Diretora do Instituto Leônidas & Maria Deane da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz Amazônia), e Dr. Marcus Vinicius Guimarães de Lacerda , pesquisador do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) e médico da Fundação de Medicina Tropical Doutor Heitor Vieira Dourado.
A médica sanitarista Adele Schwartz Benzaken trabalhou no Ministério da Saúde (MS) no início do atual governo e foi exonerada da chefia do Departamento de Vigilância, Prevenção e Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs), do HIV e Hepatites Virais do MS, após polêmica em torno de uma necessária cartilha para prevenção de saúde entre homens trans.
O médico infectologista Marcus Vinicius Guimarães de Lacerda foi presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT) e coordena o Instituto de Pesquisa Clínica Carlos Borborema, em Manaus. Ele liderou um estudo pioneiro no país sobre o uso de cloroquina em pacientes com Covid-19, ainda no início da pandemia. Foi ameaçado de morte e teve de andar com escolta armada, pois a pesquisa demonstrou que o medicamento era ineficaz e poderia apresentar riscos aos pacientes infectados com o COVID-19.
A Coalizão Ciência e Sociedade lamenta profundamente a retirada da condecoração dos colegas citados, que foi definida por Comissão Técnica formada por personalidade indicadas pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações , pela Academia Brasileira de Ciências e pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência.
Atitudes como essa demonstram a politização de um reconhecimento que deveria prezar o mérito científico e também a baixa prioridade dedicada pelo Governo Federal à área da Ciência Tecnologia e Inovação, já impactada pelos dramáticos cortes orçamentários que atingem nossas Universidades , Institutos de Pesquisa , o FNDCT e o CNPq. Qual futuro queremos para a ciência, a tecnologia e a inovação brasileiras? Obscurantismo ou progresso?