‘Parem de destruir a natureza ou teremos pandemias piores’, alerta grupo de cientistas
Um grupo formado pelos maiores especialistas em biodiversidade do mundo, entre eles o antropólogo Eduardo Brondizio, integrante da Coalizão Ciência e Sociedade, publicou artigo nesta segunda-feira, 27, afirmando que se a destruição da natureza não tiver um fim, é provável que doenças ainda mais mortais e destrutivas atinjam a humanidade no futuro, de forma mais rápida e frequente.
Os professores Eduardo Brondizio, Josef Settele, Sandra Díaz, que lideraram o estudo mais abrangente já feito sobre ‘saúde planetária’, publicado em 2019 pela Plataforma Intergovernamental de Políticas Científicas sobre Serviços de Biodiversidade e Ecossistemas (IPBES), alertaram para o que pode ser só o começo de um ciclo de doenças piores do que a Covid-19 e com maior impacto econômico. Segundo eles, a humanidade tem uma pequena janela de oportunidade para superar os desafios da crise pandêmica atual e evitar lançar as sementes de crises futuras. Será preciso interromper já a destruição desenfreada do mundo natural, que é a causa raiz dos surtos de doenças. “Há uma única espécie responsável pela pandemia de Covid-19: nós”.
No artigo assinado também por Peter Daszak, que prepara a próxima avaliação do IPBES, os cientistas afirmam que “assim como as crises climáticas e de biodiversidade, as recentes pandemias são uma consequência direta da atividade humana, particularmente dos nossos sistemas financeiros e econômicos globais, baseados em um paradigma limitado que valoriza o crescimento econômico a qualquer custo”.
Os pesquisadores afirmaram que o “desmatamento desenfreado, a expansão descontrolada da agricultura, a agricultura intensiva, a mineração e o desenvolvimento de infraestrutura, bem como a exploração de espécies selvagens,” criaram o que classificaram como uma “tempestade perfeita” para a propagação de doenças. Segundo eles, 70% das doenças humanas se originam do contato com animais, que se dá em consequência dessas atividades predatórias do meio ambiente. No caso do coronavírus, há dois fatores importantes: a urbanização e o crescimento explosivo das viagens aéreas pelo mundo, o que fez com que um vírus inofensivo em morcegos asiáticos causasse “sofrimento humano incalculável”, além de parar economias e sociedades em todo o mundo.
Investimento em saúde e proteção ambiental – No artigo, os cientistas enfatizam que iniciativas de recuperação econômica implementada pelos países durante esta pandemia devem incluir o fortalecimento à proteção ambiental e exigir que as indústrias tenham em conta a conservação da natureza em seus processos. Eles reputam vital a necessidade de financiar e adequar programas de vigilância e serviços de saúde em países com maiores riscos diante de pandemias. E defendem uma abordagem global da saúde. “A saúde das pessoas está intimamente ligada à saúde da vida selvagem, à saúde do gado e à saúde do meio ambiente.”
“Podemos sair da crise atual mais fortes e resistentes do que nunca, com ações que protegem a natureza, para que a natureza possa ajudar a nos proteger”, concluem.
Foto: Ascom/Ibama