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Pelo futuro de todos nós, amazoniza-te!

A Coalizão Ciência e Sociedade soma-se à  Campanha Amazoniza-te, lançada em 27 de julho pela Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e expressa seu apoio neste artigo da cientista Ima Célia Guimarães Vieira, pesquisadora do Museu Paraense Emílio Goeldi, assessora da REPAM-Brasil e membro da Coalizão Ciência e Sociedade.

 

A pandemia do novo coronavírus revela e anuncia a possibilidade de que o futuro pós-pandêmico seja “trágico e doloroso”, nos diz o Papa Francisco. Como parte de um possível cenário fatídico está a aceleração da destruição da Amazônia pelo aumento descontrolado do desmatamento, das queimadas e a invasão de territórios indígenas e das comunidades tradicionais. Contribui para esse quadro, a violação sistemática da legislação de proteção ambiental e o enfraquecimento dos órgãos públicos, como forma de desregulamentar e ampliar – de forma ilegal – a atuação de projetos predatórios na região.

Com um total de 803 mil quilômetros quadrados de área desmatada, cerca de 20% do bioma, cientistas alertam para o ponto de “não retorno”, a partir do qual haverá um processo de savanização e empobrecimento da biodiversidade que jamais poderá ser revertido. A atual crise socioambiental pela qual passa a região nos coloca, portanto, diante do imperativo de pensar sobre a Amazônia e articular ações que conduzam a um futuro possível e sustentável. É com este propósito que nasce a Campanha Amazoniza-te, da Comissão Episcopal para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e da Rede Eclesial Pan-Amazônica-REPAM Brasil e vários outros parceiros (www.amazonizate.org).

Durante o Sínodo para a Amazônia, realizado em outubro de 2019 em Roma, a expressão Amazonizar foi muito utilizada e agora se difunde em uma convocatória em defesa da região. Amazonizar-se é um processo de expansão de consciência que tem início na ampliação do entendimento sobre a floresta e na defesa de seus povos. É preciso que cada um de nós assuma a tarefa de buscar informações confiáveis sobre a Amazônia para alargar o olhar quanto à sua importância para a vida na Terra, às formas pelas quais tem sido explorada e ameaçada e às lutas que vêm sendo travadas para preservar este patrimônio da humanidade. A ciência e os conhecimentos ancestrais são importantes aliados nesta etapa do processo.

Traçando novos caminhos

Um cenário de sustentabilidade para a Amazônia pressupõe um forte sistema de Governança Territorial e Social com bases institucionais sólidas e impulsionado pelo fortalecimento da ciência por meio do aumento efetivo dos recursos humanos e orçamentários e da infraestrutura laboratorial. São urgentes também a proteção e a garantia dos direitos dos povos indígenas e tradicionais, o monitoramento e o controle efetivo da expansão de cultivos em detrimento da derrubada de floresta e da exploração ilegal de madeira e a restauração de extensas áreas degradadas no arco do desmatamento.

A construção de um futuro sustentável para a Amazônia exige também um movimento de reversão do desmonte da legislação ambiental e de revitalização dos órgãos responsáveis pela gestão do meio ambiente. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que a presença do Exército na região e o recente decreto federal que proíbe queimadas no Brasil no período de estiagem não detiveram a sanha predatória. Em julho, foram registrados 6.803 focos de calor na Amazônia, um aumento de 28% em relação a julho do ano passado. Em junho, o desmatamento e as queimadas registraram recorde histórico. No acumulado do semestre, houve aumento de 25% em comparação com o mesmo período de 2019. Os alertas feitos a partir das imagens de satélite indicam devastação em 3.069,57 km², contra 2.302,1 km² no ano anterior.

O rol de obras de infraestrutura previstas para a década de 2020, como portos, rodovias e hidrelétricas, demonstra outra questão urgente: a mudança no padrão de desenvolvimento da região, que é tão predatório quanto o que foi implementado na década de 1970. A maioria das obras, a exemplo das que foram executadas em anos recentes, entra em conflito com as unidades de conservação em terras indígenas. Hoje, o quadro é o seguinte: 61% do total das unidades de conservação registram incidência de processos minerários e 57% delas têm trechos rodoviários dentro de seus limites.

A mudança começa aqui e agora

Individualmente, podemos fazer muito pela Amazônia. E isso não tem a ver somente com o futuro, mas principalmente com o presente. É agora que podemos fazer algo a respeito, começar a mudança. Cada um de nós tem a chance de fazer hoje escolhas melhores, mais conscientes, adotar hábitos mais saudáveis e sustentáveis, usar os meios que tem à mão para dar visibilidade à floresta e lutar pelos povos da Amazônia. “Amazoniza-te é sinônimo de sensibiliza-te, toma consciência, acorda antes que seja tarde demais”, em palavras de Dom Erwin Krautler, nosso querido bispo emérito do Xingu.

Em nossas redes sociais, podemos esclarecer os amigos sobre o papel fundamental da Amazônia na economia e na regulação do clima e da temperatura do planeta, por exemplo. Compartilhar com eles a informação de que a floresta é responsável pelo sistema de chuvas que abastece diversas partes Brasil e da América do Sul. Que sem ela não teremos água e que seu fim contribuiria para um processo de extinção em massa de espécies vegetais e animais sem as quais não sobreviveríamos.

Para reverter o atual quadro de destruição da Amazônia e de seu povo, precisamos entender que tudo está conectado com tudo (“Tudo está interligado” nas palavras do Papa Francisco) e que a crise atual (“Não há duas crises separadas: uma ambiental e outra social; mas uma única e complexa crise socioambiental”, nos diz Francisco) pode ser a oportunidade de desenvolvimento de uma percepção profunda sobre a nossa ligação com a natureza e com o seu poder gerador e mantenedor de vida.

 

Coalizão Ciência e Sociedade

Coalizão Ciência e Sociedade

A Coalizão Ciência e Sociedade é formada por cientistas de instituições de ensino e pesquisa de todas as regiões brasileiras. Você pode conferir todos aqui

A Coalizão Ciência e Sociedade é formada por cientistas de instituições de ensino e pesquisa de todas as regiões brasileiras. Você pode conferir todos aqui

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